04 outubro 2011

Saudade

E agora aqui estou, condenado à vida, num país de dor e de incerteza, desde que o dia que cobriste os ombros com um manto inevitavél e translúcido e empreendeste a tua viagem...
 E agora eu?
Sim,eu, o que faço?
O que faço,se já nao tenho a tua palavra límpida e recta, o teu ombro onde ancoravam todos os meus barcos perdido, o teu olhar seguro e paciente que esperava um tempo justo, a tua coragem exacta, e firme e a tua lucidez sábia e serena?
E agora eu?
Sim,eu, o que faço?
O que faço, quando tiver medo da noite e do soluçar da lua?
O que faço, quando o mar das lembranças me embargar a voz e afogar o peito e a casa,as pedras,as águas, os frutos, a rua, o céu, as árvores, as estrelas, as flores, o dia chamarem por ti?
O que faço?
Fosse a tempo  entregava-te
a lira,
o coração,
o sol do meio-dia,
o mar, os barcos, as velas, as bússolas,
a alegria e as sete partidas do mundo...
Só assim compreenderias que eras o pão da minha fome e a benção da minha casa.
Resta-me,agora,a paz,
mesmo sabendo que «a paz possível é nao ter nenhuma»


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